Pai e filho recebem transplante de coração em menos de dois meses no ES
29/09/2025
(Foto: Reprodução) Famílias do ES relatam a importância da doação de órgãos
Dos nove corações transplantados no Espírito Santo em 2025, dois foram destinados a uma mesma família de Pedro Canário, no Norte do Espírito Santo. Pai e filho passaram por cirurgias cardíacas com menos de dois meses de diferença. Josimar Ribeiro, de 43 anos, ganhou um novo coração em março e Narcílio Ribeiro, de 21, passou por transplante em abril.
Segundo a Central Estadual de Transplantes (CET-ES), o estado contabilizou 55 doadores efetivos de órgãos até 31 de agosto. Desse total, nove corações foram captados no Espírito Santo.
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Nesta segunda-feira (29) é celebrado o Dia Mundial do Coração e por isso o mês é conhecido por Setembro Vermelho. Período que reforça os cuidados do coração e preveção de doenças que afetam esse órgão vital.
O mês também é marcado pela campanha nacional Setembro Verde que defende a importância da doação de órgãos e tecidos no Brasil. Além de incentivar a doação de órgãos como um ato de solidariedade que salva vidas.
Pai e filho recebem transplante de coração em menos de dois meses no Espírito Santo
Arquivo Pessoal
Família enfrenta problemas cardíacos
Josimar Ribeiro trabalha como montador de andaimes e começou a sentir alguns sintomas em 2024. Ele contou que sentia palpitações, cansaço intenso e inchaço. Diagnosticado com insuficiência cardíaca dilatada, foi submetido a transplante em março deste ano.
“Eu comecei a sentir o coração acelerado demais, um batimento muito forte. Depois, veio o cansaço. Eu não aguentava andar dez metros sem ficar exausto. Comecei a inchar as pernas e a barriga. O médico disse que não tinha jeito, era só transplante”, lembrou o pai.
Josimar Ribeiro tem 4 filhos, o mais velho também transplantou o coração no Espírito Santo
Arquivo Pessoal
Josimar contou ao g1 que no caso dele o problema é genético e que a mãe morreu por problemas no coração. Ele disse que depois do transplante não sente mais nada.
“Sei que a medicação é para o resto da vida. Não posso tomar sol e tenho que evitar esforço físico, mas hoje não sinto mais nada. Por enquanto não posso trabalhar, faço uma coisinha ou outra dentro de casa, mão posso pegar peso", relatou o montador de andaimes que segue com acompanhamento médico.
Casado há mais de 20 anos e com quatro filhos, a preocupação é diária.
Filho também transplantou coração
O filho mais velho, Narcílio Ribeiro de 21 anos, transplantou o coração e o outro filho está tomando medicação por apresentar irregularidades no órgão.
“Meu filho começou com uma tosse seca, mas não saía nada. Depois veio o inchaço nas pernas e barriga, além da falta de ar. Eu fiquei surpreso, um menino tão novo. Graças a Deus encontramos uma compatibilidade bem rápido”, contou Josimar.
Narcílio Ribeiro de 21 anos transplantou o coração depois do pai no Espírito Santo
Arquivo Pessoal
Narcílio foi transplantado em abril e só teve alta do hospital cinco meses depois, no dia 9 setembro. Passa os dias em casa com a família para se recuperar do procedimento.
"Estamos com todo cuidado. Remédios no horário ceritinho, alimentação leve e nossas caminhadas l perto de casa, já que moramos na área rural. Tenho tomando conta dele como pai e por ter experiência com o transplante. Sei que todo cuidado ainda é pouco", desabafou o pai.
A família ainda vive em alerta. Outro filho de Josimar, Tarcísio Ribeiro de 20 anos, já faz tratamento preventivo após alterações no coração. Os dois caçulas, de 12 e sete anos, também estão em monitoramento médico.
Josimar Ribeiro transplantou o coração e poucos dias depois o filhou também passou pelo mesmo procedimento no ESpírito Santo
Arquivo Pessoal
Setembro Verde: 10 anos de conscientização
A campanha Setembro Verde celebra uma década em 2025, reforçando a importância da doação de órgãos e tecidos.
No Espírito Santo, os transplantes de córnea aumentaram 57% neste ano: foram 167 cirurgias de janeiro a julho de 2024 contra 264 em 2025 no mesmo período.
Fila de espera no Espírito Santo
👁️ 1.525 por córnea
🫘 1.067 por rim
🍖 41 por fígado
🫀 9 por coração
“Hoje fazemos transplantes de tendões, ossos, córneas, sangue e tudo que for possível ser captado, desde que haja um receptor compatível”, disse a coordenadora da CET-ES, Maria Machado.
Pai e filho se recuperam de transplante de coração no Espírito Santo
Arquivo Pessoal
Setembro Vermelho: prevenção é essencial
Nesta segunda-feira (29) é celebrado o Dia Mundial do Coração. Durante todo o mês, a cor vermelha simboliza a conscientização sobre as doenças cardiovasculares e a importância da prevenção.
Segundo o cardiopediatra Wagner Knoblauch, existem alguns sinais no dia a dia que podem indicar que o coração está fora do comum.
“Um dos sintomas relacionados às cardiopatias é o cansaço maior que o normal para atividades habituais, além das palpitações, quando o coração bate fora do compasso”, explica o doutor.
O médico disse que é importante se atentar aos cuidados com o corpo durante a rotina para evitar maiores problemas.
“A regra é que não dá para não cuidar da saúde. Uma vez por ano é fundamental fazer uma avaliação. A palavra-chave é prevenção: boa alimentação, atividade física, não fumar e manter a saúde mental em dia”, destaca o cardiopediatra.
Vida após o transplante
Pacientes transplantados precisam de cuidados rigorosos, especialmente no primeiro ano após a cirurgia.
“Quando você faz um transplante, esses pacientes saem do hospital usando imunossupressores, que fazem o organismo aceitar o novo coração. Mas essas medicações derrubam muito a imunidade e exigem cuidados com infecções e alimentação”, explicou a cardiologista pediátrica que atua com insuficiência cardíaca avançada e transplantes cardíacos, Márcia Matos.
Os remédios, apesar de essenciais, podem trazer efeitos colaterais, por isso, o primeiro ano após a cirurgia costuma ser o mais delicado.
27 de setembro é o Dia Nacional de Doação de Órgãos
Gleison Luz/Fundhacre
Doação transforma
O transplante envolve sempre duas partes: quem recebe uma nova chance de viver e as famílias que, em meio à perda, autorizam a doação.
“Gostaríamos que as pessoas enxergassem a possibilidade da continuidade. É uma chance que você está dando pra alguém que está sofrendo, de ter uma nova oportunidade de viver”, destacou a médica Márcia Matos.
Doar no momento de luto é algo difícil, mas pode ter um novo significado, como conta a família de Heitor Valbuzi, de 27 anos, que teve morte encefálica após um acidente de moto no Espírito Santo.
Mesmo sem nunca conversar sobre o assunto, os pais permitiram a doação de órgãos do jovem. Com a atitude da família, seis órgãos foram destinados a pacientes da fila de espera.
O pai de Heitor, Valdirlei Valbuzi, relatou saber que, apesar da dor, a escolha trouxe esperança para outras famílias.
“Tinha dor naquele momento porque meu filho estava com morte encefálica. Mas, também, com esse gesto teve a oportunidade de outras famílias terem uma nova chance de vida. Em frente ao hospital tinha uma placa de doação de órgãos. Toda vez que eu chegava e sentava na grama com vários amigos, eu olhava a placa e abaixava a cabeça. Parece que papai do céu já estava me mostrando algo”, disse o pai.
A mãe, Adriana Valbuzi, destacou o envolvimento de várias pessoas durante o processo. “Tem todo um protocolo, todo um processo de doação. São muitas pessoas envolvidas em prol de uma captação. A gente foi muito bem acolhido”, lembrou.
Transplante de órgãos
Mauricio Bazilio/SES-RJ
Além da prevenção, os médicos reforçam a necessidade de conversar em família sobre a decisão de doar órgãos.
“Ainda existe uma cultura de negação em relação à doação no Brasil. É compreensível, porque no momento da perda da família é difícil. Mas é fundamental que em vida cada um deixe claro seu desejo de ser doador”, destacou o médico Wagner Knoblauch.
A história de Heitor e de outros doadores mostra que a decisão de doar ultrapassa o momento do luto. Cada órgão doado representa a possibilidade de tratamento para pacientes que aguardam na fila e depende da escolha feita ainda em vida ou pela família.
Mais do que um procedimento médico, a doação é uma política de saúde pública que depende de informação, diálogo entre familiares e consciência social para garantir que vidas sejam salvas.
* Renam Linhares é aluno do 28º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo foi editado por Juirana Nobres.
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