Após suspeito confessar assassinato, família de estudante trans da Unesp cobra punição: 'A gente não consegue ter paz'
02/08/2025
(Foto: Reprodução) Caso Carmen: veja a cronologia do desaparecimento às buscas pelo corpo da jovem
A angústia da família da estudante trans Carmen de Oliveira Alves, de 26 anos, ganhou novos contornos depois que um dos suspeitos de envolvimento em seu desaparecimento confessou à polícia o assassinato. A jovem desapareceu há mais de um mês em Ilha Solteira (SP).
A investigação indicou que o namorado da vítima, Marcos Yuri Amorim, e o policial militar ambiental da reserva Roberto Carlos de Oliveira a assassinaram no dia 12 de junho, Dia dos Namorados. Os homens foram presos temporariamente, por 30 dias, em 10 de julho.
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Carmen de Oliveira Alves (à esquerda), o namorado Marcos Yuri Amorim (ao centro) e o policial militar Roberto Carlos de Oliveira, suspeitos de crime em Ilha Solteira (SP)
Reprodução/Facebook
O delegado responsável pelo caso, Miguel Rocha, informou que a investigação apontou que Carmen foi assassinada pelo namorado, com a ajuda do policial comparsa, que é amante dele. A ocorrência, que foi inicialmente tratada como desaparecimento de pessoa, agora é investigada como feminicídio.
A polícia não localizou o corpo de Carmen até a última atualização desta reportagem. Para a família, a justiça é o único caminho possível diante da perda.
Ao g1, o irmão dela, Lucas de Oliveira Alves, de 29 anos, revelou que, apesar da notícia da confissão, a família ainda não recebeu detalhes oficiais da polícia, e a dificuldade em lidar com o caso é intensificada pela ausência do corpo. A despedida, por enquanto, acontece apenas na memória e nos objetos que Carmen deixou.
"A gente não encontra consolo, a gente não consegue ter paz, só quando tudo isso acabar e encontrarem o corpo dela. Independente do motivo, ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa. O sentimento sempre foi e sempre será de justiça, a gente quer que os dois paguem pelo que fizeram", reforça o irmão.
Restos de celular destruído foram encontrados pela Polícia Civil após detalhes divulgados por suspeito
Arquivo pessoal
Na quinta-feira (31), o delegado ouviu novamente os suspeitos envolvidos no caso e um deles, cuja identidade não foi revelada, afirmou que Carmen está morta, que o corpo dela foi escondido e que eles teriam destruído o telefone da estudante.
Com base nessas informações, a polícia encontrou alguns pedaços desse possível aparelho dela, e os restos foram enviados para a perícia. O resultado não foi divulgado até a última atualização desta reportagem.
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VEJA CRONOLOGIA: desaparecimento às buscas pelo corpo da jovem
Investigação
Assassinato de estudante trans da Unesp: veja a cronologia do desaparecimento às buscas pelo corpo da jovem
Beatriz Santos/Arte g1/TV TEM
O delegado responsável pelo inquérito policial afirmou que a investigação apontou as seguintes motivações para o assassinato:
Carmen pressionou Yuri para que assumisse o relacionamento. Apesar de a família da vítima conhecer a relação, ela não era pública;
Carmen descobriu que ele cometia crimes, como furtos, e elaborou um dossiê no computador com provas, que foi deletado posteriormente;
Havia um triângulo amoroso: o policial da reserva preso ajudou Yuri no crime e mantinha uma relação com ele, segundo a polícia.
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Cronologia
Desaparecimento
Conforme a mãe de Carmen relatou à polícia, um dia antes do sumiço, em 11 de junho, por volta das 23h, a jovem saiu de casa com uma bicicleta elétrica de cor preta. A bicicleta dela não foi localizada. Familiares ainda afirmaram que Carmen nunca havia desaparecido antes.
Após o ocorrido, parentes e amigos auxiliaram os policiais nas buscas e fizeram várias manifestações pedindo respostas para o caso. Entre os locais vasculhados estava a região próxima ao rio da cidade, onde o sinal do celular de Carmen foi captado pela última vez.
Também foram feitas buscas em uma área de mata próxima à universidade, onde foram encontradas marcas de pneus compatíveis com os da bicicleta elétrica que ela usava no momento do desaparecimento.
Segundo o boletim de ocorrência, a estudante estava na Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde fez uma prova do curso de zootecnia, antes de desaparecer. Ela foi vista pela última vez perto de um ginásio.
Suspeitos localizados e presos
Marcos Yuri Amorim, namorado da vítima (à esquerda) e o policial militar ambiental da reserva Roberto Carlos de Oliveira (à direita) foram presos em Ilha Solteira (SP)
Arquivo pessoal
Dois dias antes de completar um mês do desaparecimento da jovem, depois de buscas e protestos, a polícia prendeu os suspeitos. De acordo com o delegado, o envolvimento afetivo e financeiro entre os dois se revelou parte da dinâmica.
Conforme a investigação, o último lugar onde ela esteve foi a casa do namorado, Marcos Yuri, em um assentamento. Os policiais verificaram que Roberto Carlos, por sua vez, atuou como comparsa de Yuri, já que também tinha um relacionamento com ele.
O delegado pediu à Justiça a quebra de sigilo telefônico dos suspeitos e teve acesso a informações que indicam que Carmen não saiu de Ilha Solteira. Imagens de câmera de segurança também mostram que ela entrou na residência do namorado, mas não saiu do local.
No dia 10 de julho, a polícia cumpriu os mandados de prisão temporária, de 30 dias, contra Marcos Yuri e Roberto Carlos. O delegado informou que deve ser pedida uma prorrogação da prisão temporária dos suspeitos na primeira semana de agosto.
Carmen de Oliveira, estudante transexual, desapareceu após sair da faculdade em Ilha Solteira (SP)
Reprodução/Facebook
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